Dramas, derrotas, decepções. Anderson Silva passou de um supercampeão, o maior da história do UFC, a um lutador pressionado a dar show e que aos poucos foi “quebrando”, até a chegar ao fundo do poço com uma suspensão por doping. No próximo sábado, ele enfrenta o inglês Michael Bisping, em Londres, tentando afastar a zica e limpar o horizonte para, aos 40 anos, iniciar uma nova corrida pelo cinturão. Sua maior arma depende de um movimento de dezenas de músculos. E não está em socos ou chutes, mas na face. É o sorriso.
Pode parecer piegas falar nisso, mas, conversando com as pessoas que rodeiam o Spider nos últimos meses, a principal diferença notada por eles é a alegria e a satisfação em voltar a lutar e em decidir retomar a carreira. Em um vídeo postado por Anderson, ele aparece conversando com o baterista do Blink 182 Travis Barker, durante um treino, e explica:
“Eu estou animado em voltar. Não para provar nada para ninguém. Por mim mesmo, pelo meu coração. Acho que é um desafio para a minha mente, atingir um próximo nível na minha vida.”
A rotina de campeão custou caro a Anderson, desde que ele nocauteou Vitor Belfort e deixou de ser apenas um astro do UFC e se tornou uma celebridade no Brasil e no mundo. A pressão inerente à posição foi pesando sobre os seus ombros, até a derrota para Chris Weidman, quando ele já mostrava sinais de desgaste e vinha falando como tinha vontade de “se livrar” do cinturão.
O surpreendente é saber que o Anderson que desembarcou em Londres na segunda-feira é visto como o mais alegre e solto justamente desde aquela vitória contra Vitor.
Ed Soares, empresário que acompanha toda a trajetória de Anderson no UFC, puxa na memória: “Eu me lembro dele feliz assim anos atrás, acho que (não ficava tão feliz) desde antes da luta contra o Vitor. Lá no início da carreira dele no UFC é que ele estava feliz como agora. O Anderson é um cara dedicado, sempre foi bem para as lutas, mas a cabeça pesa muito, tem muita coisa ao mesmo tempo quando se está no topo”.
Não é só ele. Rodrigo Minotauro está sempre em contato com o ex-campeão. Viajou aos Estados Unidos, viu o fim da preparação e embarcou junto com Anderson para Londres. Lá, fez a mesma análise. “Eu senti isso, sim. Ele está muito motivado, como há muito eu não via. Como o Ed falou, mesmo, desde a luta contra o Vitor”.
O empresário de Anderson explica que essa felicidade e vontade de lutar influem diretamente no desempenho no octógono. “Quando ele está se sentindo assim, é um sinal muito bom. Todo mundo sabe das habilidades que ele tem, e quando ele está assim, todas essas habilidades funcionam bem. O Anderson está forte, focado e feliz. Isso é o mais importante.”
Por que diferente?
Há diversas explicações para esse novo Anderson ter surgido das cinzas, num momento em que ele poderia fazer o oposto, ser absorvido pelo buraco negro de problemas que viveu nos últimos anos.
No âmbito pessoal, é fácil observar que os laços que ele reforçou com a família e o fato de viver mais ao lado deles e se dedicar mais aos filhos fez bem, algo que começou quando ficou “de molho” com sua fratura na perna.
E há o lado competitivo de Anderson. Além de ser um estudioso das artes marciais, sempre aprendendo e incorporando novas modalidades, ele tem paixão por competir. E sabe que é no octógono que ele poderá reconstruir algo que foi manchado no caso de doping: o legado. Foi com base nesta palavra que o ex-campeão publicou um vídeo em suas redes sociais.
Diz o vídeo: “A grandeza é despertada em nossos momentos mais sombrios. É quando começamos a construir o nosso legado. Sem abaixar a cabeça, sem fraquejar. Assumindo nossas falhas e nosso lado humano''.
Anderson ainda quer atingir essa grandeza e se aposentar por cima.
“É a vontade de lutar. Mostrar que ele é realmente um cara diferenciado”, reforça Minotauro.