O toque de recolher normalmente é associado a cartilhas de comportamento ou ambientes excessivamente controlados. A natação do Brasil criou exatamente o oposto para a Rio-2016: no período dos Jogos Olímpicos, os atletas do país foram proibidos de dormir cedo. Por causa desse veto, muitos deles ignoraram a entrada tardia na Vila Olímpica – a equipe chegou às acomodações por volta de 22h de terça-feira (02) – e aproveitaram para fazer um treino "corujão" no Estádio Aquático Olímpico, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca.
Inicialmente prevista para começar às 21h (de Brasília), a atividade dos brasileiros teve início às 22h40. O grupo treinou por cerca de 40 minutos – o Estádio Aquático fica aberto apenas até meia-noite no período que precede os Jogos.
"A gente não pode dormir antes de 1h, mas todo mundo estava muito cansado. Se eu tivesse ficado no hotel, acho que não teria conseguido", contou o velocista Nicolas Nilo Oliveira, 28.
A comissão técnica deixou a decisão de treinar na mão dos atletas. Alguns, como Bruno Fratus, João de Lucca, Marcelo Chierighini, Matheus Santana e Thiago Pereira, preferiram ficar na Vila.
O horário do treino é uma questão especialmente relevante para a natação do Brasil. A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) já manifestou seguidas vezes uma preocupação com as sessões finais da modalidade na Rio-2016 – pela primeira vez na história, as provas decisivas dos Jogos terão início às 22h (horário local).
"Fizemos uma programação para o atleta conseguir ter performance melhor num horário de 22h até meia-noite, que é o horário das finais olímpicas, e isso arrastou a vida deles como se fosse um país com outro fuso horário", explicou Fernando Vanzella, técnico da equipe feminina.
A estratégia para mudar o fuso horário dos atletas contou com uma série de artifícios. Eles foram acomodados em quartos com cortina blecaute, por exemplo. Além disso, usam óculos especiais que emitem luz no período noturno. A ideia desses aparatos é "enganar" o corpo e retardar a percepção do período noturno.
Depois dos treinos, em contrapartida, atletas usam óculos escuros e luvas que reduzem a temperatura corporal para induzir o sono imediato.
Todo esse equipamento foi usado na aclimatação da natação, em São Paulo, durante oito dias. A seleção vinha treinando em duas sessões na capital paulista (entre 10h e 12h e de 20h até 22h). O primeiro trabalho no Rio de Janeiro, portanto, também foi o que começou mais tarde.