No ano em que encerra seu "Programa do Jô'' na Globo, Jô Soares quer se aproximar mais do teatro. E escolheu este retorno, após quase três anos de ausência, com uma peça vista por ele em Paris 13 anos atrás ao lado de Bete Coelho e Mika Lins e que o deixou impressionado: "Histeria'', do britânico Terry Johnson. "Fiquei atraído pelo encontro de dois mitos: Freud e Salvador Dalí'', conta Jô ao UOL.
Mais de uma década depois, o espetáculo estreia nesta sexta (6), no Tuca, em São Paulo, tendo como pano de fundo o encontro de um grande nome da ciência com outro gênio da arte: o pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939) e o pintor surrealista Salvador Dalí (1904-1989).
"Além de se tratar de um encontro que realmente aconteceu, me fascinou a loucura que aparece nesses dois personagens, no momento em que a Europa está prestes a entrar numa guerra total'', diz Jô sobre a peça, ambientada pouco antes de começar a Segunda Guerra.
Jô revela ainda que, antes mesmo de conseguir comprar os direitos da obra, já havia traduzido o texto. "Geralmente quando eu pego um espetáculo para dirigir, eu sempre faço a tradução e a adaptação porque a direção já inicia nesses dois processos. A não ser quando se trata de um texto nacional de um autor conhecido, ou não, eu sigo direto para a direção, se não, eu sempre prefiro fazer a adaptação'', conta ao blog.
O enredo faz o público viajar até 1938, quando Dalí visitou Freud, já acamado e bem próximo da morte, em Londres, após este fugir do nazismo. Ao encontrar Freud, Dalí vê nele a representação concreta de seus sonhos surrealistas.
Freud e Dalí
Cassio Scapin é quem vive Dalí, enquanto que Pedro Paulo Rangel interpreta Freud — este último entrou na peça de última hora, depois que Antônio Petrin pediu para deixar a peça por recomendação médica devido a uma estafa.
"Eu cheguei muito em cima da hora, foi uma substituição às pressas, e o elenco inteiro me deu muita cobertura. Não poderia ser de outra maneira, somos todos colegas de profissão e estamos todos no mesmo barco. É um por todos e todos por um'', define Rangel em conversa com o UOL. "Sou muito grato pelo apoio que estou recebendo. Já trabalhei muitas vezes com o Jô, então, temos intimidade'', complementa.
O ator aproveita o papo para fazer uma revelação sobre seu personagem: "Nada me fascina no Freud. Devo ter lido umas quatro orelhas de livro dele, no máximo. Porque todas as terapias que fiz são anti-freudianas. Mas isso não impede que eu faça esse personagem'', avisa.
Bastante parecido com Dalí por conta da caracterização, Scapin diz que interpretar o surrealista "é bárbaro''. E lembra que é a segunda vez que trabalha com Jô, com quem fez "O Libertino''. "Estamos muito bem apoiados no Jô. Fiz um trabalho grande de pesquisa, li muito a respeito, esperamos que o público goste'', diz ao blog.
Sobre o jogo com o novo colega, fala que os últimos dias foram de "força-tarefa'': "O Pedro Paulo Rangel veio de última hora, o Petrin, que é um querido, estava muito cansado e optou por deixar a peça. O Pedro Paulo é excelente comediante e um colega carinhoso. Conseguimos reorganizar o espetáculo neste curto espaço de tempo'', revela. O elenco ainda traz Erica Montanheiro e Milton Levy.